2025-03-25 jogar tiger 82
São Paulo terá uma série de shows homenageando os 100 anos da cantora, atrizjogo do tigrão, instrumentista e apresentadora de TV e rádio Inezita Barroso (1925-2015).
Entre eles figura o espetáculo "Inezita Barroso, a voz de nossa terra" que reunirá, às 21h desta sexta-feira (7), no palco do Sesc Pinheiros, os violeiros Paulo Freire, Adriana Farias e Orquestra Paulistana de Viola Caipira.
No repertório do espetáculo há um "causo" que mostra a angústia do compositor e onde ele busca suas forças. "É o ‘Causo do Angelino’, que conto emendando com a música ‘Tristeza do Jeca’, conta em entrevista exclusiva ao blog o talentoso compositor e violeiro Paulo Freire. "A última vez que me apresentei no programa da Inezita, o ‘Viola minha viola’, da TV Cultura, contei esse causo acompanhado pela viola do Levi Ramiro. Agora vai ser com a viola do Rui Tornese, da Orquestra Paulistana de Viola Caipira, ou com seu filho, o Lucas, que é fera no instrumento", disse Paulo Freire, que no "Viola minha Viola" teve a própria Inezita Barroso entrando após a apresentação do "causo", cantando "Tristeza do Jeca". No espetáculo de sexta-feira será a vez da violeira Adriana Farias mostrar seu talento. Foi ela quem continuou a apresentar o "Viola minha Viola" depois da morte de Inezita.
Outra música garantida no show é "Ser Mãe é Dureza", composição de Billy Blanco. "Tive acesso a muitas gravações da Inezita, pois ouvi mais de 80 discos", disse Freire. "Dia desses encontrei esta e achei perfeita para mostrar como a Inezita enfrentou o mundo, com seus questionamentos e firmeza. Pouca gente conhece, é bem divertida."
fortune tigerÉ óbvio que a clássica "Moda da Pinga" também está no repertório e trazendo uma polêmica. "Eu me divertia um bocado com a Inezita, em shows, camarins e tomando umazinha. Ela era uma pessoa muito firme. Quando gostava de alguém era um amor, mas se desconfiava da pessoa, sai debaixo. Ela ficava muito brava quanto aos supostos autores dessa música. Na verdade, eram aqueles versos inventados em rodas de viola. Tinha o mote e cada um inventava um verso. Inezita ouvia a ‘Moda da Pinga’ desde menina, nas fazendas de São Paulo. Claro que depois, com o sucesso de suas gravações, foram aparecendo supostos autores. O Paulo Vanzolini era muito amigo dela, né? Para uma gravação, o Vanzolini criou um verso novo e não colocaram o crédito. Pois não é que apareceu gente dizendo que tinha composto esse verso?".
Outro show que irá homenagear com propriedade Inezita Barroso é gratuito e acontecerá na próxima terça-feira (11), às 20h, na área de convivência do Sesc Pinheiros, com Carol da Viola e o expert em viola caipira, professor, compositor e exímio instrumentista Ivan Vilela.
O Música em Letras entrevistou o músico Ivan Vilela e obteve várias informações relevantes sobre o espetáculo, incluindo as afinações utilizadas pelo instrumentista, que serão explicadas durante a apresentação.
Leia, a seguir, a entrevista concedida com exclusividade pelo artista ao blog.
Quais são as músicas do repertório do espetáculo e como elas serão apresentadas?
O repertório passeia por diversas fases da carreira de Inezita, desde gravações da década de 1950, como "Viola Quebrada", de Mário de Andrade, gravada por Inezita, em 1955, em seu primeiro disco. Mário, em seu livro "Correspondências com Manuel Bandeira", escreveu que compôs essa música (aliás, sua única composição) "arremedando" o estilo de Catulo da Paixão Cearense. No arranjo são citados elementos sonoros presentes nas músicas de Villa-Lobos, como o uso de terças maiores cromáticas descendentes e um contraponto rebuscado, que dão à viola uma dimensão orquestral. Nesta música utilizo a afinação chamada de "Cebolão", em ré.
Outra música que marcou a carreira de Inezita foi "Moda da Pinga", de Ochelsis Laureano (Sorocaba, 1909-1996). Esta música havia sido gravada, em 1937, por Raul Torres com o nome de "Festança no Tietê". Inezita a gravou em 1958. Esta música, a partir de sua interpretação, tornou-se nacionalmente conhecida e, de alguma forma, tornou-se indissociável da cantora, fazendo com que todo o público associasse Inezita à "Moda da Pinga". A música é um cururu e possui oito estrofes. Em nosso arranjo, à parte da viola de acompanhamento harmônico, a outra viola (solo) traz um desenho musical diferente para cada estrofe cantada por Carol Viola. A afinação utilizada será a "Cebolão", em mi.
Em 1958, Inezita gravou dois discos. No segundo, só gravou compositoras mulheres (veja aí a consciência de gênero que ela sempre teve). Foram elas: Babi de Andrade, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade. Desse disco selecionamos "Cateretê", de Edvina de Andrade, e utilizaremos a afinação "Rio Abaixo".
Em 1961, Inezita gravou o disco "Danças do Sul". Seu olhar se voltou às danças do fandango, várias delas, recolhidas por Luiz Carlos Barbosa Lessa e João Carlos D'Ávila Paixão Cortes, dois gigantes gaúchos que voltaram seu fogo criativo à compreensão e valorização da cultura popular do Rio Grande do Sul. Desse disco separamos "Chimarrita-Balão", utilizando novamente a afinação "Cebolão", em mi.
"Tamba Tajá", outra música do show, é uma composição de Waldemar Henrique, gravada por Inezita em 1960, e mostra como a intérprete olhava para o Brasil todo. Nesse arranjo, a viola passeia melodicamente sob a voz de Carol Viola enquanto uso novamente uma afinação "Rio Abaixo".
jogo tigerNo repertório haverá outras canções como "Tristezas do Jeca", de Angelino de Oliveira, composição de 1918, gravada por Paraguassu [nome artístico do cantor, compositor e violonista Roque Ricciardi, 1894 -1976], em 1924, ou seja, cinco anos antes das primeiras gravações de Cornélio Pires.
"Lampião de Gás", música de Zica Bérgami eternizada na voz de Inezita; "Ronda", de Paulo Vanzolini estabelecendo a ligação dos dois, Inezita e Vanzolini, no olhar para a cultura popular; aqui, no caso, para a cultura paulistana, além de "Uirapuru", de Waldemar Henrique, "Luar do Sertão", de Catulo da Paixão Cearense, "Nhapopé", de autor desconhecido, porém com recolha atribuída a Julio Casado, a Villa-Lobos e a Alberto Deodato. Seu primeiro registro em um cancioneiro data de 1935 ("Modinhas e Canções", atribuído a Villa-Lobos), "Engenho Novo", de Hekel Tavares, gravada por Inezita, em 1958. "Luá Luá", de Catulo da Paixão Cearense e, por fim, "Viola e Baralho", de Raul Torres, também estão no espetáculo.
O que será explorado em termos de sonoridade no espetáculo?
Como citei anteriormente, trabalharemos com quatro afinações: "Cebolão" em ré e em mi, "Boiadeira" e "Rio Abaixo". A viola de Carol é construída mais sobre a linguagem caipira. Seus solos delineados em terças e sextas demarcam o território caipira. Já a minha passeia por outras paisagens sonoras tendo o contraponto como base principal de construção. Daí, a junção resulta numa sonoridade multifacetada e, de certa forma, multicultural.
Qual a importância de Inezita Barroso para a música brasileira?
Inezita talvez tenha sido a intérprete que mais valorizou a música dos interiores do Brasil, no período que compreende as décadas de 1950 a 1970. Seu repertório é vasto e foi cuidadosamente construído dentro de sonoridades representativas das várias regiões do nosso país. Ao lado da goiana Ely Camargo, Inezita talvez seja a grande voz dedicada ao registro fonográfico de um Brasil de dentro, no que toca à diversidade de repertório. Gonzagão gravou também músicas de outras regiões do Brasil, mas o seu foco sempre se centrou na música do Nordeste.
Em tempos onde a misoginia e o racismo perdem o seu espaço, graças a Deus, Inezita foi uma mulher que desde os anos 1950 se preocupou em mostrar no seu repertório mulheres compositoras, no caso dedicando até um disco especial para isso. Foi uma defensora da autêntica música sertaneja diante das mudanças impostas pelo mercado fonográfico desde os anos 1970 como as vertentes romântica e universitária. Sempre teve um posicionamento demarcado em seu programa televisivo -como o Rolando Boldrin- diante das imposições da mídia. Se, por um lado, uma vertente da chamada música regional (termo que não assumo e não gosto) teve sua fundação calcada no cancioneiro camponês latino-americano, nos anos 1950, representado no Brasil pela canção de protesto e por artistas como Dércio Marques e turma, Inezita manteve viva uma outra linha que vinha das antigas composições sertanejas de autores do início do século 20 e que não eram propriamente caipiras. Sua preocupação, como folclorista que foi, em percorrer de carro o Brasil para conhecer de perto as músicas e manifestações que representava a apresentam como um exemplo a ser seguido, uma guiança [ação de orientar], longe da xenofobia e da xenofilia.
SHOW IVAN VILELA E CAROL VIOLA HOMENAGEM A INEZITA BARROSO
ARTISTAS Ivan Vilela e Carol Viola
QUANDO Terça-feira (11), às 20h
ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 3095-9400
QUANTO Gratuito
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ARTISTAS Paulo Freire, Adriana Farias e Orquestra Paulistana de Viola Caipira
QUANDO Sexta-feira (07), às 21h
ONDE Teatro Paulo Autran, Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 3095-9400
QUANTO De R$ 21 a R$ 70
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